sábado, 31 de dezembro de 2011

O que o sistema de educação da Finlândia pode nos ensinar?


Li esta semana um artigo no mínimo intrigante que tenta demonstrar as diferenças entre o sistema educacional americano e o sistema educacional finlandês. Vou listar alguns pontos pois vale a pena a reflexão:
  • O sistema americano é baseado na "excelência", na competência; o finlandês, na equidade entre os indivíduos.
  • As melhores escolas americanas são particulares e pagas; todas as escolas finlandesas são públicas e gratuitas (da creche ao doutorado).
  • O sistema americano é falido, seus alunos obtém resultados no máximo medianos; os finlandeses estão há anos entre os melhores (senão o melhor).
  • Para os americanos, a competição entre as escolas torna-as melhores; para os finlandeses, o acesso e condições iguais a todos, independente de posição social, financeira ou geográfica, torna a educação melhor.
Todos os tópicos acima podem levar a conclusões diferentes, mas o item que mais me chama a atenção no texto é: os professores e diretores finlandeses são bem pagos, respeitados, prestigiados e lhes são delegadas responsabilidades.

Ultimamente vemos alunos que não podem ser reprovados, e a educação desmoronando no Brasil. Sinceramente creio que o fator que mais influencia o aprendizado dos alunos é a qualidade do professor. Coloque professores excelentes e bem preparados nas salas de aula, e teremos um salto na nossa qualidade de educação.

Veja a decadência no ensino básico brasileiro nas últimas décadas. Não é culpa do feminismo, mas é uma consequência. Há 40, 50 anos, a única profissão que uma mulher inteligente e bem sucedida poderia exercer na sociedade machista era a de professora. Ou isso ou dona-de-casa. Resultado: aquelas eficazes na tentativa de sair do trabalho doméstico representavam em sua boa parte as melhores mentes femininas disponíveis. Professoras de qualidade. Graças a isso tínhamos alunos com um desempenho satisfatório.

Comparemos com a situação atual. Sou professor também, mas perdoem-me os meus colegas atuais: ser professor costuma ser a última opção dos alunos que se formam nas faculdades. Aliás, eu garanto que os melhores alunos não se dedicam à docência. Há uma verdade escondida no rumor "não sabe fazer nada direito, vira professor". O resultado vemos nos jovens que formam-se por aí. E por que isto acontece? Muito trabalho, pouco dinheiro e nada de respeito.

Uma revolução na educação passa pela valorização dos professores. Pensem nisso e ajam.

2 comentários:

  1. Uma das melhores matérias para começar o ano.

    Primeiro, não sou totalmente a favor da estrutura do ensino americano, mas vamos se ater aos fatos. (Suas hipóteses sobre tal estrutura de ensino estão erradas)

    O ensino americano não é totalmente privado. O ensino básico é público. As universidades, estas sim são pagas.

    Se o sistema é falido, por que as universidades americanas são as melhores do mundo? Por que a produção científica, não só da área da computação, sempre possuem alta qualidade técnica?

    Agora, a pior parte do texto é sua conclusão. Algumas afirmações ridículas:

    (1) "ser professor costuma ser a última opção dos alunos que se formam nas faculdades;"

    É, deve ser nas faculdades que o senhor atua. Pra mim, o que vejo é algo diferente. Em algumas cidades, ser professor é uma das poucas atividades disponíveis que valoriza o aluno que pensa.

    Além do que, para muitos, é inviável fazer uma pós-graduação de alto nível.

    Particularmente, não conheço nenhum profissional que virou professor por que não consiguia entrar no mercado. Entretanto, conheço muitos que viraram professor por não aceitarem as ofertas do mercado.

    Mas como disse, tudo é uma questão de ambiente.

    (2) Aliás, eu garanto que os melhores alunos não se dedicam à docência.

    Quanta besteira. O melhor aluno que conheci está na carreira acadêmica e vai muito bem. Ahh, é claro, para ter uma carreira acadêmica descente é necessário ser paciente, inteligente e ser muito trabalhador.

    (3) E por que isto acontece? Muito trabalho, pouco dinheiro e nada de respeito.

    É, tudo depende de que instituição vc está dando aula, quais são os profissionais que vc tem contato e da forma que vc se dá o respeito.

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  2. Salve Guilherme,

    É uma pena que você não tenha se identificado melhor. Esta discussão poderia ficar interessantíssima e sempre é agradável conhecer nosso interlocutores.

    Aproveito o ensejo para desculpar-me com você e outros leitores: meu objetivo era o de valorizar a carreira de professor, mas pelo que vejo - ao menos no seu caso - o efeito foi o oposto. Desculpem-me se as palavras aparentaram ser rudes, não foi o intuito.

    Não afirmei que o ensino americano fosse totalmente privado, apenas que "As melhores escolas americanas são particulares e pagas": o que é verdade - inclusive no Brasil ocorre o mesmo.

    Imagino que as universidades americanas ainda sejam consideradas as melhores do mundo porque primeiramente são negócios extremamente lucrativos; segundo porque de acordo com o que argumentei, possuem excelentes professores (pois são muito bem pagos pra isso) e terceiro, porque ainda atraem bons alunos e não necessariamente americanos - o percentual de alunos estrangeiros aumenta em muito a cada ano. Quebre um destes itens e é possível que se siga o mesmo exemplo do ensino básico. Mas é pura especulação, e ainda assim não é o foco do texto. Quem diz que o sistema americano está falido não sou eu, são os próprios americanos e o PISA.

    Agora vamos às afirmações ridículas:

    (1) Continuo achando que é uma das últimas opções. Na minha amostra de avaliação boa parte dos professores públicos não se "ajustaram" no mercado de trabalho e buscam estabilidade, não renda nem sucesso. Nos privados, a profissão é em boa parte um complemento de renda. Mas adoraria conhecer estas cidades em que se valoriza o aluno que pensa. Ajudaria a aumentar meus horizontes e minha amostra.

    (2) A melhor mente que já conheci tornou-se um pesquisador/professor. Inclusive teve que ir para o exterior para ser devidamente valorizado. Mas por vocação, e o considero uma exceção. Imagino que a sua indignação seja porque ache que o conjunto dos "não-melhores" seja ruim. Também não afirmei isso. Considerar os professores atuais bons ou ruins depende do referencial. Mas mesmo que eu os considere "bons", o nível poderia ser muito melhor com maior concorrência graças à valorização da carreira - que é o propósito do texto.

    (3) Concordo de acordo com as instituição que conheço e os profissionais que conheço. Mas não entendi a "forma com que você se dá o respeito". Talvez eu possa ser ajudado neste ponto.

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